sábado, 8 de janeiro de 2011

Coma.

Jack acordou sobressaltado naquele dia.

Como quem ainda não “pegou no tranco” direito, olhou para o celular ao seu lado e verificou que ainda eram 6h da manhã. Madrugada. Tinha ido dormir tarde no outro dia.

Ele estava ansioso. Esse era o motivo de seu nervosismo, de ter acordado cedo. Era “o dia”.

Em algum momento da vida todos já sentimos um frio na barriga ao se aproximar de alguém especial, esse era o caso.

Há muito tempo atrás Jack namorou uma garota chamada Lucy. Uma encantadora garota mais nova, cheia de vida, ainda meio inexperiente na vida, mas com certeza, linda.

Lucy foi, e ainda era, a garota dos sonhos dele.

Sabe aquela pessoa que você costuma esperar meses para ver e, quando finalmente a vê, sua barriga fica meio fria, suas mãos suam e suas pernas tremem? Sabem as famosas borboletas na barriga?

Bem, era assim que Jack se sentia.

No entanto, a vida fez com que os dois se separassem.

Por muito tempo Jack ficou só, buscando reconquistar migalhas de atenção de Lucy, que ainda muito nova, desejava curtir a vida, conhecendo outros garotos e experimentando novas sensações em bocas e corpos diferentes. Não havia muito contato entre eles agora.

A separação dos dois não havia sido daquelas difíceis, tinha sido bem fácil, na realidade. É óbvio que os dois lados haviam ficado tristes, porém ainda eram jovens e tinham muito a viver.

Antes de trocarem as últimas palavras como namorados, combinaram que uma vez a cada ano iriam se encontrar para sair, ver como andava a vida um do outro, tomar um drink juntos e ver se já estavam prontos para embarcarem novamente naquele amor.

Ora, o amor ainda existia. Ali sim, podia-se enxergar, a olhos nus, um conto de fadas.

Mesmo separados, ainda nutriam o mesmo amor, se não mais, um pelo outro.

Cinco anos se passaram.

Era dia de encontrá-la. Ele havia esperado um ano inteiro por isso. Tudo que fizera, fizera pensando nela: exercitou-se por ela, estudou por ela, respirou para continuar pensando nela. Lucy estava em tudo que ele fazia. Em cada centelha de vida, em cada instante.

Ele sabia que ela estava com um novo sujeito, mas tudo bem, ele mesmo havia se aventurado com várias garotas, mas nenhuma se mostrou, ao final, digna de seu amor, compatível com seu beijo.

Às 18h da noite, lá estava ele, tomado banho e arrumado, pronto para vê-la.

Mil coisas passavam por sua cabeça sonhadora: como será que está o cabelo dela? Será que ela está bem? Será que ainda ri daquela forma engraçada? Será que ainda tem cócegas no pescoço?

Ela estava 15 minutos atrasada. Seu coração estava há tempos em disparada, parecia que iria sair pela boca a qualquer segundo.

Suas mãos suavam.

Suas pernas tremiam.

Seu estômago estava frio.

Cinco anos desde que haviam terminado seu relacionamento e ele continuava daquele jeito. Se aquilo não fosse amor, ele não sabia o que o amor realmente significava.

Ao término de mais 10 minutos, lá vinha ela, caminhando ao final da rua.

Seus cabelos negros esvoaçando no ar.

Seus olhos castanhos procurando-o.

Seus lábios perfeitamente pintados de rosa claro exibiam um sorriso sensual.

Caminhava em sua direção.

Os dois se abraçaram, finalmente. Havia um ano desde que aquele ato não acontecia.

Jack sorria de orelha a orelha, no entanto, algo estava errado.

Ali estavam os dois, como prometido. Estavam felizes, mas algo não estava normal.

Havia algo no sorriso de Lucy, no modo como ela o abraçara e começara a conversar com ele.

O sentimento certamente havia diminuído. Ela começara a esquecê-lo.

Jack não a sentia mais ali.

Aquela não era a garota com que ele sonhara durante todo esse tempo. Aquela não era a sua musa, seu amor maior. Aquela ali, parada em frente a ele, era uma estranha no corpo de sua amada.

Subitamente, não havia mais faíscas. Suas mãos não tremiam, nem suas pernas. Sua barriga parara de congelar. As borboletas perderam as asas.

“Tudo bem”, pensou ele.

Respirou fundo, fez um sinal de pare com a mão direita, indicando para a garota que parasse de tagarelar sobre suas amigas e sobre seu novo namorado, olhou em seus olhos e perguntou:

-Não é mais a mesma coisa, não é mesmo?

-Não. – Ela disse.

-Certo... Você ainda continua linda, sabia?

-Obrigado, mas eu nem tive tempo de me arrumar direito.

-É... De qualquer forma, eu sou meio suspeito para te elogiar.

-É mesmo...

Aquele era o fim.

Jack não a sentia mais ali, não sentia interesse algum dela. Só havia uma coisa a se fazer:

-Acho que esse é nosso adeus.

-Como assim? – Perguntou ela.

-Obviamente você tem um novo alguém, enquanto eu permaneci estagnado durante esses anos todos.

-Isso não é verdade, você saiu com muitas garotas lindas durante esse tempo... – Havia um pouco de raiva na voz dela. Talvez um pouco de ciúme.

-É verdade, mas nenhuma delas era você.

-Como assim? – Estava intrigada.

-Nenhuma delas tinha seu cheiro, ou seu gosto. Nenhuma delas sabia como conversar comigo direito, eu simplesmente não me divertia com suas conversas sobre festas e amigas ricas. Nenhuma delas tinha seu senso de humor. Nenhuma delas sabia apreciar uma boa noite olhando para as estrelas. Nenhuma delas sabia como me tocar, como me deixar louco, como você sabia. Nenhuma delas tinha seu beijo, seu corpo. Nenhuma delas me olhava do jeito como você fazia e, principalmente, nenhuma delas era você.

-...

-É você quem eu sempre quis. Nesse momento eu te quero...

-Por favor, pare.

-...mais que tudo.

-Você não entende. Eu estou feliz com ele. Estou feliz com minha nova vida...

Silêncio.

Jack sabia que não havia mais como mudá-la. Aquela casca vazia não continha mais aquilo que ele tanto cuidara, que ele tanto desejara durante todo esse tempo. Era apenas mais uma garota.

-Desculpa te fazer perder seu tempo, hoje, e durante esses cinco anos que nos vimos.

-Não diz isso, Jack... O tempo que passamos juntos foi bom...

Um beijo.

Sem pensar duas vezes ele a beijara.

Fora estranho a princípio. As bocas não se conheciam mais. Pareciam não se encaixar.

Mas por um instante, tudo estava bem...

PAFT!

Um grande tapa na cara dele. Uma Lucy com cara de ódio, gritando, no meio da rua:

-Eu te odeio, seu grande idiota! É isso que você merece! Você também não é mais a mesma pessoa, o mesmo cara que eu amei! Vive agora murmurando pelos cantos, chamando o meu nome. Escritor frustrado, músico decadente! A única coisa que você sabe fazer agora é beber seus whiskys baratos e choramingar aos seus amigos! Você não me engana! Eu sei de tudo sobre você! Ora, eu continuei te observando, cuidando de você! Mas você agora não merece minha atenção, nem o meu carinho. É isso, Jack. Adeus.

Lá se iam seus grandes olhos castanhos e sua boca perfeitamente pintada. Seu perfume ia sumindo ao final da rua. Sumira.

Ele ainda estava em choque. Por um mero instante, que para ele pareceu horas, ela fora dele. Ela gostara daquele beijo, ele sabia.

Mas agora...

Agora tudo que restava era uma marca avermelhada de uma mão na sua face direita e uma marca rosa de batom em sua boca.

Não havia nada o que fazer.

Conformado, seguiu para casa. Tirou suas roupas, entrou na banheira. Sentia-se sujo, precisava lavar-se.

Ao seu lado estava uma garrafa cheia de um whisky de 25 reais e um tubo de remédios para dor.

Seu coração doía.

Lágrimas escorriam em sua face.

Tomou algumas pílulas, desceu aquilo tudo com whisky.

Engasgou-se com um soluço choroso durante o processo.

A garrafa agora estava pela metade.

¼.

Seu mundo girava.

Ele balbuciava coisas.

A garrafa havia chegado ao fim. O pote de remédio, igualmente.

Jack estava ali, parado em baixo d’água.

O telefone tocava em sua casa vazia: Lucy queria desculpar-se pelo modo grosseiro que o tratara.

Mas ninguém atendera.

Ela chorava também do outro lado da linha. Ainda sentia algo por ele, só não gostava de lembrar, pois aquilo tudo, aquela distância, também fazia mal a ela.

Ele finalmente havia esquecido ela. Cinco anos preso a um fantasma. A uma idealização de uma mulher perfeita.

Afinal, o que é perfeição?

Jack só havia entendido isso quando ela finalmente dera as costas para ele, deixando-o espantado após um beijo tão bonito.

O efeito colateral dessa descoberta fora forte de mais para ele.

Cinco anos de vida dedicados a ela.

Sua juventude. Seu amor. Sua vida.

Ilusão.

Sua mão mexe um pouco.

Sua mente está completamente escurecida.

A água em baixo do queixo, como um espelho para uma última lágrima.

Coma.

domingo, 2 de janeiro de 2011

O silêncio de um sono profundo.

A postagem de hoje é uma pequena crônica que escrevi inspirado por algumas músicas e a vivência de relacionamentos que tive.

Não se surpreendam se estiver um pouco confuso. Essa é a intenção x)


O silêncio de um sono profundo.


Mais uma vez me encontro perdido.

Perdido em uma melodia nostálgica em um lugar desconhecido.

Seria em minha mente?

Não sei ao certo, as lembranças estão confusas de mais para entender.

Ainda respiro?

Ainda.

Que bom, ainda há tanto a dizer...

Eu queria te dizer, que os dias não tem sido fáceis.

Amar-te tem sido a coisa mais dolorosa e mais difícil que já fiz em minha vida, sabia?

Ora, reconheça o meu esforço, pois continuo caminhando feito um filho da mãe...

Correndo atrás de sua atenção.

Mais um minuto, por favor, preciso dizer o que ficou na garganta.

Mais uma vez.

Desabafos não estão te trazendo de volta.

Continuo perdido.

Admito que sinto falta do seu cheiro doce, do seu jeito engraçado de rir.

Mas, sinceramente, eu não sei mais quem é você.

Será que um dia eu realmente te conheci?

Falei com você?

Toquei sua pele?

Ou será que tudo isso é fruto da minha forte imaginação e você não era nada mais do que uma estranha passando ao meu lado na rua?

Você é tudo que importa e pra sempre eu saberei disso.

Minha doce ilusão.

E eu continuo caminhando.

Continuo perdido.

Eu olho ao redor, mas não consigo mais enxergar nada.

Não vejo saída.

Penso que tudo seria diferente se eu pudesse voltar no tempo, mas... Seria mesmo?

Naquele tempo seus olhos me encaravam com uma sagacidade que eu não podia compreender.

Aqueles mesmos olhos selvagens.

Seria o carinho verdadeiro que tanto busquei, ou apenas mais uma peça pregada por minha mente doentia?

Ainda não consigo distinguir o real do irreal.

Sinto minhas mãos frias, minhas pernas trêmulas. Você está ao meu lado. Você está ali, sorrindo pra mim.

Um odor gostoso sai de sua boca. Cheira como um lar pra mim. Onde devo ficar para sempre.

Mas agora...

Agora é um inferno completo, pois sei que isso é apenas um sonho.

Estou na verdade queimando em um mar de chamas. Torrado até o fim.

Não é fácil expressar indecisões e, sinceramente, estou apanhando das palavras agora.

Uma garrafa de whisky pende debilmente de minha mão esquerda.

Estou um pouco tonto.

Não importa agora, fui um tonto minha vida inteira.

Fui tonto quando deixei escapar de minhas mãos as suas asas, afinal, você voou para longe de mim.

Onde estará agora?

Você era o único rosto que eu conhecia.

A única escapatória par esse mundo caótico.

Você era minha realidade irreal.

Hoje?

Estou vagando perdido em um mar de bocas e abraços. De pernas e salivas. De indecisão e saudade.

O vento carregou para longe as palavras que saíram de minha boca.

Elas diziam: “não vá... Preciso de você aqui!”

Com a mesma sagacidade que eu via em seus olhos você me deixou naquele dia frio.

Meus lábios tremiam desolados, sentiam sua falta.

Eu sentia sua falta.

A desintoxicação foi foda.

Eu me senti um idiota durante muito tempo.

Senti-me um estrangeiro, um gaijin.

Perdido em meu próprio mundo, sem saber pra onde ir.

Eu corri, perdido, buscando te encontrar em alguma esquina. Em alguma avenida, caminhando por entre os carros.

Não achei.

O presente é a dura realidade.

Sinto-me cercado de pessoas, cercado de outras.

Mas me sinto só.

Sinto-me perdido.

Sinto-me cego.

Não creio que irei me encontrar enquanto continuar vivendo essa vida que levo.

Esse caminho autodestrutivo nunca me fez muito bem.

Pelo contrário, sempre me afastou das pessoas.

“Não faça isso...”

Eu vou fazer!

“Não diga isso...”

Eu vou dizer!

“Não vá pra lá...”

Eu irei!

Isso um dia vai me matar, sério.

O coração fraco não agüenta mais. Bate forte.

A garrafa de whisky está no chão agora, derramando o resto da minha vida.

Patético não é mesmo?

Sinto meu último suspiro sair de minha boca trêmula.

Estou deitado ao lado de minha própria porcaria: vômito, cigarros, álcool e comida por todo o lugar.

Pessoas nos quartos. Mulheres bêbadas, homens imbecis.

Desconhecidos.

Continuo no chão.

Vou perdendo a consciência.

Seu sorriso está voltando...

Seu cheiro doce...

Seus olhos selvagens...

Um vento quente passa por meus lábios trêmulos e o esquenta. Sinto o odor gostoso de sua boca.

Você está mesmo aqui?

Se estiver, pode segurar minha mão?

Estou assustado.

Obrigado. Senti sua falta.

Sabe... eu estive perdido esse tempo todo.

Mas, com você aqui, eu sinto que estou de volta em casa.

Não estou mais perdido.

Só não me diga que isso não é a realidade, que você não está aqui...

Eu só quero acreditar que você...

Eu só quero acreditar...

Acreditar... você... de volta... mim.

Finalmente o silêncio de um sono profundo.

...


Falo com vocês em breve,

ArthurR